As portas
estão abertas, entre, conheça um pouco do mundo onde eu vivo. Aquele em que
muitas vezes preciso fingir rancor, mágoa, ódio. Negar que conheço alguém que
gosto muito para protegê-lo da maldade que vem daqueles que se consideram
direitos.
Aquele onde
as únicas opções são abaixar a cabeça e viver uma mentira ou sofrer
humilhações, de cabeça erguida.
Parecemos
felizes, sempre empolgados, sorrindo para os quatro cantos do universo. Mas
esta é apenas a forma que encontramos de provar que estamos sobrevivendo.
Se soubessem
o que se passa no íntimo da maioria de nós, quando pousamos a cabeça sobre o
travesseiro e começamos a pensar em como foi nosso dia, certamente agradeceriam
por não ter os nossos problemas.
O mundo de hoje
parece liberal, mas nem todos tem a coragem de abraçar o que ele anda
oferecendo.
Muitos ainda
sofrem.
Ainda
existem aqueles que cansados de apanhar colocam uma máscara para esconder os
ematomas. Alguns se trancam dentro do próprio coração, temendo amar, porque a
covardia lá fora ainda é maior do que a força de enfrentar os obstáculos.
Imagine
alguém que durante a noite se entregou por completo aos seus carinhos, dizendo
o quanto lhe ama e o quanto deseja estar sempre do seu lado. E imagine, pela
manhã, este mesmo alguém, fora das quatro paredes, dizendo que tem nôjo de
pessoas como você.
O meu mundo
é assim...
Eu poderia
me render, desistir dos meus sonhos e viver de acordo com as regras. Poderia
guardar segredo, fingir que nunca um homem fez meu coração bater mais forte,
jamais confessar que já me apaixonei por alguém do mesmo sexo e me casar com
uma bela mulher para agradar a família e a sociedade.
Eu poderia,
mas não seria o Gabriel Myslinsky que vocês conhecem se um dia chegasse a
pensar que essa seria a melhor saída.
Acho que a
verdade é o estado natural das coisas e voltar-se contra ela é o mesmo que
construir um teto de ilusões e debaixo dele se abrigar, com medo da tempestade
lá fora.
Muita gente
me pergunta porque eu escrevo, porque tenho um blog e porque deixo minha vida
tão trasparente assim.
Minha gente,
o meu objetivo é dar exemplos, mesmo que para isso precise me denunciar o tempo
todo. Porque eu desejo, do fundo do meu coração, que alguém que está passando
pelo que já passei possa ler meus textos e ter a certeza de que não é o único,
que alguém já sobreviveu a isso e que conseguiu vencer.
E eu quero
que os meus irmãos sejam vitoriosos! Quero que o mundo dobre a língua antes de
se pronunciar contra pessoas como eu. Quero gritar e provar para essa maioria
que ela não vai conseguir me manter em silêncio.
Eu sei bem
como as coisas funcionam.
Falo do meu
mundo, aquele ainda abafado pelo escarro da ignorância, não porque quero
expô-lo e sugerir que sintam pena. Mas para dizer que os que projetam sombras
sobre ele, estes sim, vivem na verdadeira escuridão.
Eu me lembro
daquela cantora (sem citar nomes) que quando grávida fez um comentário que
causou polêmica nas redes sociais:
- Meu filho
não será gay, será bem educado.
No fim das
contas, o filho nasceu deficiente e hoje, vemos a mesma mulher que pronunciou o
comentário acima, dizendo numa propaganda:
- Ser
diferente é normal.
Ah, como é
bom viver para ver não é mesmo?
Além desse
caso não vivido pessoalmente, tenho algo que senti na pele para lhes contar,
meus queridos:
Ontem eu
estava conversando com um sujeito de aproximadamente 47 anos. Ele falava sobre
os homossexuais, dizendo que somos um problema para a sociedade. Que Deus criou
o homem para a mulher e que nós somos contrários as leis da natureza.
Eu fui
ouvindo as discriminações (que nem vale a pena registrar) em silêncio e quando
ele se cansou de falar, eu lhe perguntei:
- Fulano,
você tem uma filha não tem?
Ele me olhou
com curiosidade e respondeu:
- Sim. Mas o
que isso tem a ver com o que estamos falando?
O diágolo se
seguiu:
- Tudo.
-
Absulotamente que não. Minha filha não é homossexual e não se envolveria com
isso nunca.
- O senhor é
que pensa.
- Como
assim?
- Você sabia
que por causa de comentários como estes que o senhor acabou de fazer, muitos
homossexuais se escondem com medo de sofrer preconceito?
- Mas o que
isso tem a ver?
- Com medo
de serem apontados e discriminados, a maioria deles se escondem numa vida de
mentiras. Fingem que gostam mesmo de mulher e até se casam com elas.
- Pode ser,
mas isso não é problema meu.
- Mas será,
se um deles se casar com sua filha!
Meu pai que
estava ao lado (porque o senhor é amigo dele) quase me bateu quando eu
terminei. Me mandou ir para o quarto e não sair enquanto a visita ainda
estivesse aqui em casa.
Foi então
que comecei a refletir sobre a vida que eu levo e o que os outros pensam dela.
E no castigo comecei a escrever este texto que agora termino dizendo:
- Bem vindo
ao meu mundo. Aquele que alguns detestam, muitos ignoram, mas ninguém destrói.
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