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Cinquenta por cento das pessoas são normais,

quarenta e nove fingem que são, o resto sou eu.

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Bem Vindo ao Meu Mundo:

As portas estão abertas, entre, conheça um pouco do mundo onde eu vivo. Aquele em que muitas vezes preciso fingir rancor, mágoa, ódio. Negar que conheço alguém que gosto muito para protegê-lo da maldade que vem daqueles que se consideram direitos.
Aquele onde as únicas opções são abaixar a cabeça e viver uma mentira ou sofrer humilhações, de cabeça erguida.
Parecemos felizes, sempre empolgados, sorrindo para os quatro cantos do universo. Mas esta é apenas a forma que encontramos de provar que estamos sobrevivendo.
Se soubessem o que se passa no íntimo da maioria de nós, quando pousamos a cabeça sobre o travesseiro e começamos a pensar em como foi nosso dia, certamente agradeceriam por não ter os nossos problemas.
O mundo de hoje parece liberal, mas nem todos tem a coragem de abraçar o que ele anda oferecendo.
Muitos ainda sofrem.
Ainda existem aqueles que cansados de apanhar colocam uma máscara para esconder os ematomas. Alguns se trancam dentro do próprio coração, temendo amar, porque a covardia lá fora ainda é maior do que a força de enfrentar os obstáculos.
Imagine alguém que durante a noite se entregou por completo aos seus carinhos, dizendo o quanto lhe ama e o quanto deseja estar sempre do seu lado. E imagine, pela manhã, este mesmo alguém, fora das quatro paredes, dizendo que tem nôjo de pessoas como você.
O meu mundo é assim...
Eu poderia me render, desistir dos meus sonhos e viver de acordo com as regras. Poderia guardar segredo, fingir que nunca um homem fez meu coração bater mais forte, jamais confessar que já me apaixonei por alguém do mesmo sexo e me casar com uma bela mulher para agradar a família e a sociedade.
Eu poderia, mas não seria o Gabriel Myslinsky que vocês conhecem se um dia chegasse a pensar que essa seria a melhor saída.
Acho que a verdade é o estado natural das coisas e voltar-se contra ela é o mesmo que construir um teto de ilusões e debaixo dele se abrigar, com medo da tempestade lá fora.
Muita gente me pergunta porque eu escrevo, porque tenho um blog e porque deixo minha vida tão trasparente assim.
Minha gente, o meu objetivo é dar exemplos, mesmo que para isso precise me denunciar o tempo todo. Porque eu desejo, do fundo do meu coração, que alguém que está passando pelo que já passei possa ler meus textos e ter a certeza de que não é o único, que alguém já sobreviveu a isso e que conseguiu vencer.
E eu quero que os meus irmãos sejam vitoriosos! Quero que o mundo dobre a língua antes de se pronunciar contra pessoas como eu. Quero gritar e provar para essa maioria que ela não vai conseguir me manter em silêncio.
Eu sei bem como as coisas funcionam.
Falo do meu mundo, aquele ainda abafado pelo escarro da ignorância, não porque quero expô-lo e sugerir que sintam pena. Mas para dizer que os que projetam sombras sobre ele, estes sim, vivem na verdadeira escuridão.
Eu me lembro daquela cantora (sem citar nomes) que quando grávida fez um comentário que causou polêmica nas redes sociais:
- Meu filho não será gay, será bem educado.
No fim das contas, o filho nasceu deficiente e hoje, vemos a mesma mulher que pronunciou o comentário acima, dizendo numa propaganda:
- Ser diferente é normal.
Ah, como é bom viver para ver não é mesmo?
Além desse caso não vivido pessoalmente, tenho algo que senti na pele para lhes contar, meus queridos:
Ontem eu estava conversando com um sujeito de aproximadamente 47 anos. Ele falava sobre os homossexuais, dizendo que somos um problema para a sociedade. Que Deus criou o homem para a mulher e que nós somos contrários as leis da natureza.
Eu fui ouvindo as discriminações (que nem vale a pena registrar) em silêncio e quando ele se cansou de falar, eu lhe perguntei:
- Fulano, você tem uma filha não tem?
Ele me olhou com curiosidade e respondeu:
- Sim. Mas o que isso tem a ver com o que estamos falando?
O diágolo se seguiu:
- Tudo.
- Absulotamente que não. Minha filha não é homossexual e não se envolveria com isso nunca.
- O senhor é que pensa.
- Como assim?
- Você sabia que por causa de comentários como estes que o senhor acabou de fazer, muitos homossexuais se escondem com medo de sofrer preconceito?
- Mas o que isso tem a ver?
- Com medo de serem apontados e discriminados, a maioria deles se escondem numa vida de mentiras. Fingem que gostam mesmo de mulher e até se casam com elas.
- Pode ser, mas isso não é problema meu.
- Mas será, se um deles se casar com sua filha!
Meu pai que estava ao lado (porque o senhor é amigo dele) quase me bateu quando eu terminei. Me mandou ir para o quarto e não sair enquanto a visita ainda estivesse aqui em casa.
Foi então que comecei a refletir sobre a vida que eu levo e o que os outros pensam dela. E no castigo comecei a escrever este texto que agora termino dizendo:

- Bem vindo ao meu mundo. Aquele que alguns detestam, muitos ignoram, mas ninguém destrói.

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