É difícil admitir, mas eu preciso. Preciso porque não posso
mais continuar assim.
Por sete anos eu estive nessa vida, nesse mundo colorido que
no fundo eu vivi em preto e branco. Mas para que? Qual foi o objetivo? Qual a
recompensa de ter lutado, enfrentado o preconceito, acreditado que no fim eu
não iria acabar sozinho?
Eu acho que dessa vez abri os olhos.
Pela primeira vez fui comemorar o dia do orgulho LGBT e me
arrependi. Levei a bandeira, não me desgarrando dela por um minuto se quer e no
fim do percurso, quando pensei que era orgulho tudo aquilo que eu sentia,
descobri a decepção.
Descobri que nunca me identifiquei com esse mundo. Que nunca
gostei das gírias, do glamour, das expressões e da cultura transmitida por esse
grupo.
Eu sou diferente deles. Meu estilo é diferente e meu
pensamento é diferente da maioria dos homossexuais.
Confesso que é difícil entender o que está se passando comigo.
É difícil relatar esta experiência sem esboçar uma pontada de preconceito. Eu sei
que muita gente não vai entender, principalmente os meus amigos mais chegados.
Mas é isso o que estou sentindo.
É lógico que não desejo cair no ridículo, negar as minhas tendências
e sair por aí procurando uma cura. Não, a esse ponto eu não vou chegar. Também
não vou me forçar a interessar-me pelo sexo oposto, virar hétero como dizem por
aí.
Eu quero apenas exercer o meu direito de desistir. De não
mais acreditar que posso ser feliz assim, apaixonado por algum homem e
esperando pelo dia em que ele resolva acertar as coisas.
Eu estou cansado...
Eu nunca me interessei pelos assumidos e todos os
relacionamentos que de alguma forma começavam a dar certo, eu sempre dava um
jeito de estragar.
Todas as minhas paixões foram proibidas.
O que eu vivi até hoje está longe de ser uma vida homossexual
comum. É isso que estou tentando admitir. É isso que estou querendo abandonar.
Hoje, o que eu mais preciso é ficar sozinho. E se estou tentando
deixar de me relacionar com homens, como posso continuar me definindo
homossexual?
Eu não tenho uma definição para quem eu sou, esta sempre foi
a verdade...
Não quero criticar, não quero recriminar, não quero ter
preconceito nenhum. Mas também não quero mais ser assim.
Não quero mais sofrer por algo que nunca vai dar certo,
porque a sociedade não foi feita assim e não vale a pena causar danos em alguma
família para fazer a minha vontade de ser feliz com alguém que possa estar morando em meu coração.
Bem...
A partir de agora, uma fase da minha vida termina. Posso estar
enganado com essa escolha, mas estou certo de que vou tentar.
O Gabriel que andava por aí, transando em casas abandonadas,
amando em segredo e desejando que o mundo inteiro se transformasse num arco
íris não existe mais.
Essa é minha palavra final sobre o assunto.
Me desculpem...
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