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Cinquenta por cento das pessoas são normais,

quarenta e nove fingem que são, o resto sou eu.

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Canilidade Máxima:

Ele tinha um cachorro enorme - preto, peludão, grande mesmo – que quando ficava de pé se igualava perfeitamente ao meu tamanho (um metro e setenta e cinco).


Sempre que iria chamá-lo, ele estava lá, amarrado naquela corrente com uma vasilha vazia ao lado, língua para fora, respirando ofegante.
Eu tinha medo! Pelo menos nos primeiros dias, enquanto ainda não havia me acostumado com aquele bicho.
Em nossos momentos proibidos ele nos alarmava. Sempre que alguém se aproximava, ele latia, grunhia com estrondo e nós, com medo de sermos pegos no flagra, tratávamos logo de ir vestindo as roupas.
Em falar em roupas, acabei mentindo sem querer. Foram raras as vezes que conseguimos tirá-las completamente. Éramos um casal (se é que posso chamar isso de casal) sem nenhuma privacidade.
Então nós nunca tirávamos as roupas, no máximo abaixávamos a bermuda, mas isso não interessa agora.
O cachorro morreu um dia. Levou com ele a beleza, os latidos e a proteção. Eu gostava dele, do cachorro, e por mais que ele, o garoto, não houvesse percebido, nesse dia eu chorei escondido.
- Quem é que vai latir para mim agora? Quem vai avisá-lo que eu cheguei? Para quem eu vou olhar e disfarçar minha atenção quando não estivermos sozinhos, para esconder o nosso lance?
Eu não entendo...
Porque os cachorros morrem?
E porque seus donos não nos abanam o rabo, não nos lambem e não são nossos melhores amigos para sempre?
Passei essa manhã a pensar nisso.
E descobri que aquele cachorro me excitava, não por se tratar de um cachorro grande, mas por ser dele, justo dele... aquele cachorro lindo tinha que ser (justo) dele? Porque, meu Deus!? Porque não do vizinho que mora bem do lado da minha casa?
Yeah... Eu não sabia ainda... E descobri tarde...
Fui para a cama com um homem que tinha um cachorro grande, e acabei sentindo, por uma manhã inteira, falta dele – do cachorro.

Mas qual dos dois?

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